O culto aos gêmeos reveste-se de particularidades em algumas partes do Continente Africano onde estes e outras crianças nascidas com alguma peculiaridade recebem tratamento especial a exemplo daquelas que chegam ao mundo com a placenta presa ao corpo, os que nascem com o cordão umbilical enrolado no pescoço ou mesmo aquelas que nascem após sucessivas mortes. Tenho insistido que tal culto liga-se a noção de continuidade, prosperidade e descendência, razão pela qual é associado à terra através da imagem do kolobô, um recipiente de barro. Talvez esta ligação nos ajude entender a afirmação de que “ ibeji, os gêmeos comem de tudo.” Desta maneira, o banquete anual dedicado a eles nos permite visualizar a grande variedade que compõe, se assim pudermos falar, “o cardápio dos orixás.” Em outras palavras, o conjunto de iguarias que compõem a cozinha ritual reconstruída no Brasil que ainda hoje pode ser apreciada em alguns terreiros de candomblé, demonstrando a habilidade que homens e mulheres africanas tiveram quando elaboraram a chamada cozinha de orixá no Brasil, pratos elaborados respeitando os chamados “preceitos”, fórmulas rituais mantidas pela tradição de cada grupo religioso. Ligado à terra, entendida como principio primordial de onde brota a vida, “os gêmeos”recebem todos os grão e algumas comidas a base de raízes. O banquete dedicado a estes ancestrais é servido com o caruru, espécie de molho de quiabos que acompanha as iguarias. Tenho insistido que particularmente, tal culto no Brasil ganhou dimensões bastante amplas. Desta maneira, a devoção aos gêmeos além de interferir na representação de santos católicos como Cosme e Damião ultrapassa o universo das religiões de matriz africana. Assim, seu culto pode ser encontrado com características próprias em todas as cidades brasileiras em oratórios particulares, guardados por famílias que ao longo de gerações mantém viva a promessa de oferecer o tradicional caruru que em algumas ocasiões é antecido por rezas e novenas.
Kolobo é um vaso ancestral
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