Vem tomando fôlego no pais, inspirado pelo projeto do deputado estadual paulista Feliciano Filho que esta sendo analisado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Estado de São Paulo, mobilizações em torno da “proibição do sacrifício de animais em práticas rituais religiosas.” O texto não cita explicitamente as religiões afro-brasileiras, vinculação que está sendo feita por alguns grupos e alguns meios de comunicação. Já tivemos a oportunidade de falar sobre o sacrifício neste espaço, um ano atrás, artigo que foi publicado no livro: Na palma da mão: temas afro-brasileiros e questões contemporâneas, pela Editora da Universidade Federal da Bahia (EDUFBA). Desta maneira não vamos nos repetir aqui. Projeto semelhante foi vetado por “inconstitucionalidade” na cidade de Piracicaba, interior de São Paulo há um ano. Estas idéias chegaram à cidade de Salvador através da denuncia de uma ambientalista de maus tratos e comércio de animais silvestres na Feira de São Joaquim recentemente reconhecida como patrimônio cultural, fato que foi averiguada pela 3 Delegacia Territorial situada no Bonfim. O caso gerou revolta e polêmica entre alguns feirantes que vivem do “comércio sagrado.” Já há algum tempo, as religiões de matriz africana vem se deparando com assunto que uma vez ou outra entra em pauta, sempre reproduzindo o discurso falso - cientifico, higienista e racista que existe em torno dos elementos civilizatórios negro-africanos reorganizados no Brasil, presente em várias expressões sobretudo nas religiões de matriz africana, seja elas o Batuque do Rio Grande de Sul, o Tambor de Mina do Maranhão, os Candomblés de São Paulo e Rio de Janeiro, a própria Umbanda espalhada por todo Brasil, o Xangô, o Xambá e a Jurema de Pernambuco, Paraíba e outras cidades do Norte e Nordeste brasileiro, as casas nagôs do Recôncavo Baiano, os terreiros de Egun baianos, o Jarê da Chapada Diamantina e tantas outras. Tive oportunidade de ouvir depoimentos sobre isso em cidades como Porto Alegre, que concentra o maior numero de casas afro-brasileiras no pais, em Belém do Pará e em Belo Horizonte. Em todos estes lugares, a denuncia baseava-se no Artigo 3, inciso 1 e 2 da Declaração Universal dos Direitos dos Animais da UNESCO de 27 de janeiro de 1978 que reza: “Nenhum animal será submetido nem a maus tratos nem a atos crués. Se for necessário matar um animal, ele deve ser morto instantaneamente sem dores e de modo a não provocar-lhe angustia”. E ainda no Artigo 9 que fala: “Quando o animal é criado para alimentação, ele deve ser alimentado , alojado, transportado e morto sem que disso resulte para ele nem ansiedade nem dor.” Vamos alargar esta discussão na próxima semana. No momento vamos ficar com a pergunta de uma sábia sacerdotisa que interpelada sobre o assunto, respondeu: “pena que não fazem a mesma afirmação quando se chega nos açougues ou mesmo na sessão de frios dos grandes supermercados. Isso nos faz pensar dentre outros temas contemporâneos na industria de alimentos, na produção de carnes e outros derivados inventados. Como sugere Michael Pollan, “os animais criados para o corte vira seu estilo de vida passar por uma revolução nos anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial” graças ao confinamento, a alimentação a base de milho, suplementos de proteínas e gordura, o que resultou em animais mais doentes, em carnes menos saudáveis e na redução do tempo para abate. Não vamos entrar no mérito de como isso é feito. Por que tema semelhante não é colocado nas portas das industrias de alimentos? Em entrevista a um jornalista da Folha de São Paulo, trouxe a idéia de que ao contrário do que se afirma nos terreiros, uma das condições para o sacrifício, conceito amplo e de vários significados, longe da conotação violenta e sangrenta judaico-cristão, é que os animais estejam saudáveis para assim fazermos a experiência do sagrado que há neles. Assim repetir uma velha frase que diz que nos terreiros os animais “morrem” com mais dignidade do que nos abatedouros. Dignidade porque fazem parte como todos os seres da teia da vida e por isso pode representá-los mantendo como os grão a relação com nossos ancestrais, mas essa é uma conversa que apenas estamos começando.
Sua benção Bàbá.
ResponderExcluirHoje eu já acordei decidido a entrar em contato com o seu trabalho complementar, ou seja, com a sua atividade literária relativa a nossa religião alargada comum, qual seja, a Grande matriz Jeje-Nagô, ou Nagô-Vodun. Parabéns pelo sue approach balizado sobre a questão do "Sacrifico de Animais nas Religiões Afro-brasileiras" devo escrever algo sobre essa temática dentro dos próximos dias. Devo incontornável mente citar esse seu artigo como fonte de pesquisa. Abraço. Mawó Adelson