quarta-feira, 7 de setembro de 2011

ORIXÁ OKÊ, O QUE NOS VELA , NOS PROTEGE E NOS GUARDA

Hoje vamos falar sobre o orixá Okê. Nos terreiros de tradição jeje-nagô tal principio ancestral é lembrado como um dos mais antigos. Por isso recebe culto junto aos ancestrais criadores a exemplo de Oxalá. De acordo com algumas histórias,  Okê foi um dos primeiros orixás a ser criado por Oduduwa, o Universo. Conta o poema que onde a substância escura atirada por Oduduwa sobre as águas se acumulava, ia formando os montes. Nascia, assim, o orixá Okê, as montanhas e tudo que elas significaram para os primeiros grupos humanos. Okê por ligar-se aos primeiros grupos humanos é representado por caçadores e caçadoras. Mais do que referência às alturas, ao distanciamento do grupo social, à solidão ou à fuga, as montanhas desde cedo significaram para estes grupos, espécies de guardiões e guardiães. Como olhos, sempre atentos, desde cedo, elas receberam culto especial como verdadeiros amigos, na linha ioruba chamados de adele, guardiões, guardiães, vigias. Basta observarmos como elas nos acompanham. Aos pés das montanhas, desde cedo, os primeiros grupos humanos levaram até o Sagrado as suas súplicas, porque uma das funções de Okê era conduzir os seus pedidos a alguns ancestrais como orun, o sol e oxu, a lua. Diz que quando Oduduwa criou Okê, lhe investiu também do poder de transformar-se, sumir e aparecer em lugares diferentes a fim de estar  acompanhando o seu povo em  todas as partes da terra. É por isso que algumas vezes temos a sensação de estarmos sendo seguidos pelas montanhas.  Dos princípios ancestrais que recebem culto nas montanhas, destaca-se uma caçadora chamada Iyeye Okê, literalmente, a mãe da montanha. Acredita-se que Iyeye Okê anda sempre sozinha, mas na verdade ela acompanha cada um de nós. É ela quem protege os caçadores, caminha ao lado das caçadoras ao mesmo tempo em que confunde os homens aparecendo como uma grande caça. Iyeye Okê no principio da humanidade conduzia os primeiros grupos nas grandes caçadas e também protegia os animais das matanças desmedidas. Por ela está sempre fora de casa, acreditou-se que ela anda sozinha. Verdade é que a sua companhia é o orixá Okê, as montanhas, motivo pelo qual divide com ele as funções de amparo, guarda e proteção. Por fim, gostaria de lembrar uma história que nos ajuda a pensar sobre a importância de tal orixá. O mito que conta como as montanhas salvaram a humanidade. Diz que já há algum tempo, Iyemanjá, a barriga que pari filhos e filhas de todos os tipos, queria retornar de uma terra  onde era muito maltratada. Suplicando a Olokum, os mares, choveu incessantemente dia e noite inundando aquela terra. Rodeada pelas águas, Iyemanjá fogiu por um volumoso rio que se formou. No meio do caminho as águas tiveram de parar diante de Okê, a montanha, que altiva colocou-se esguia à sua frente.  A fim de prestar homenagem a Okê, Iyemanjá pediu a um de seus filhos que daquele momento em diante pratos feitos a base de quiabos, fossem oferecidos sobre as montanhas, em sinal de respeito e reconhecimento à sua antiguidade. Em retribuição, Okê dividiu-se em duas partes abrindo caminho para a fuga da mãe dos orixás. Por onde Iyemanjá passava, Okê ia se dividindo. Este é o motivo pelo qual encontramos ainda hoje montanhas “partidas” ao meio. Ao chegar diante de Okê, os grupos que procuravam Iyemanjá, a montanha lhes pareceu mais alta. Vendo a terra seca, concluíram que a mãe dos orixás só podia ter morrido na sua fuga. A humanidade assim estava salva. Iyemanjá pode voltar para o seu reino e fazer-se presente em todos os rios. Diante de Okê,  o grupo que perseguia Iyemanjá tornou-se imóvel, encantados aos “pés da montanha” nunca mais saíram. Acredita-se que eles até hoje moram lá e se limitam a repetir as vozes daqueles que chegam diante do Orixá Okê.  

2 comentários:

  1. Olá professor!

    Gostaria de te convidar pra fazer uma palestra, em qual e-mail ou telefone posso fazer contato?

    Atenciosamente
    Larissa Montenegro

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  2. Olá poderia me dizer qual as cores das contas que representa o orixà OKÊ

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Quem sou eu

Salvador, Bahia, Brazil
Antropólogo, Doutor em Ciênciais Sociais pela PUC-SP e Pós Doutor em Antropologia pela UNESP. Membro do Centro Atabaque de Cultura Negra e Teologia, Grupo de reflexão inter-disciplinar sobre Teologia e cultura fundado no início dos anos 90 em São Paulo.Professor da Escola de Nutrição da UFBA, autor de vários livros na área de Antropologia das Populações Afro-Brasileiras.